Archivo de la etiqueta: Jesús J. Barquet

REGRESSO, de Jesús J. Barquet

 .

Então achou o jazigo que queria, Achei, respondeu Ricardo Reis.

José Saramago

___________ I

Dizem que não voltou quando chamado

e sim quando sentiu que precisava reencontrar seu Criador.

Dizem

______ que andava pelas ruas de Lisboa

procurando Seus avisos, Seus rastros atrozes

nas praças e becos

daquela cidade antes cúmplice

e agora diferente

sem ser por isso inteiramente outra.

.

“Morreu o Criador”, anunciaram

os jornais da manhã

enquanto desembarcava anônimo no Tejo

sob a chuva.

Mais uma vez, tenta perambular

pela antiga cidade, alheia já do Mestre

que expulsou os que criara

e que agora morria

sem providenciar seus regressos.

No mudo vazio das calçadas e vielas

vê Ricardo Reis lampejar sem lembrança nem culpa

uma sábia orfandade,

ou será tudo aquilo apenas um surto no seu olhar?

.

Mas nosso herói é feliz: rei de si próprio, é feliz,

mesmo sabendo que esse pródigo retorno de hoje

é só um projeto — mais um — impossível.

.

© 2013 Rafael Álvarez

© 2013 Rafael Álvarez

.

__________ II

Não chegou com as malas costumeiras

nem pó nas sandálias do mundo

que lhe obrigaram percorrer.

Nas mãos unicamente três odes

de amor a uns deuses remotos

que ninguém de lá conhecia, escritas

após abandonar sua terra:

Quer pouco: terás tudo / Quer nada: serás livre.”

_____________________ Nos bolsos das calças

trazia suas odes como chaves, oferendas, simples

trocados para deixar ao pé de uma ceiba

que imaginava imutável sem tê-la visto nunca.

.

Restava-lhe ainda uma dívida:

beijaria o jazigo da mãe cuja morte

não lhe foi permitido acompanhar

e de novo,

__________  num navio qualquer,

iria embora dalí, mesmo contra sua vontade,

mas com o suave desassossego de ser, afinal,

inteiramente livre, outros.

TRENES de Jesús BARQUET

(para Rafa, sumido)

Y pasan antes de que pasen.
Gabriela Mistral

Trenes, que pasan.
A horarios definidos que alguien cuida, revisa,
inscribe en algún libro sin futuro, porque quién
querrá después saber de sus tardanzas, sus adictos
incumplimientos, sus salidas y llegadas diarias,
sus sindicalizados maquinistas?

Para los que no vamos en tren al trabajo o a una cita del médico,
nuestro asombro es que pase sin avisar cuando quiera, o que se
                                                                                                  [anuncie
en el momento exacto en que sucede
su ferruginosa visión de bisonte sañudo empañando de ruidos
el fílmico paisaje de ventanillas borrosas
donde sospechamos que habitan tantos ojos
desplazados, huidizos, inconformes,
sin órbita que llamar de suya,
y que hacen del tren sus piernas, sus humores, el refugio
provisional de sus pasos.
                      ¿Adónde
van esos trenes cargados de tanta misericordia negada
por el mundo? ¿Acaso algún libro les ha indicado parar
en qué minuto, en qué sitio donde la vida sería
tal vez diferente?
(A veces, para saberlo,
hasta quisiera irme con ellos.)

Pero más sabios, los trenes
viven
de irrumpir imprevistos, no detenerse
y obnubilarnos la vista y el oído de tal forma
que olvidamos los años en que fuimos
también sus pasajeros.
Saben y nos dejan vivir del mito
de sus humos y sus belfos,
pero sin darnos tiempo ya para abordarlos
de nuevo.
Sabios trenes, que pasan,
no esperan
y entregan solo el tardo consuelo de una cómplice
maravilla.

 

tren